sábado, 18 de janeiro de 2014

Minha visita a Macau - Remanescências portuguesa na Ásia

Estudando sobre a origem da língua portuguesa, encasquetei com a ideia de visitar países/cidades que a tinham como oficial. Confesso que, naquele momento, os lugares que mais me intrigaram foram Macau, uma região asministrativa Chinesa e Goa, na Índia. Nesse post venho contar um pouco do que achei dos vestígios portugueses em Macau e a atual situação da língua portuguesa por lá.


Se achas que vou começar dizendo o quão extasiante foi ver uma grande quantidade de asiáticos falando português frustrou-se, meu caro leitor, entretanto tenhas certeza de que não foi o único a mentalizar essa cena. Nas minhas primeiras pesquisas fui iludida pela palavra "oficial" no que tange ao uso de nosso idioma naquelas bandas orientais. Após googlar mais, descobri que o português só constará como língua oficial da região, ao lado do idioma chinês, até 2049. Condição pertinente ao acordo luso-chinês, assinado em 1987, quando com a Revolução dos Cravos Portugal legitimou a soberania de suas antigas colônias. O uso da língua portuguesa em Macau se perdeu ligeiramente com o retorno dos portugueses para a Europa, entre outros lugares .

Apesar do descomunal declínio da língua portuguesa em Macau, especialistas no ensino da língua lusófona na China são categóricos em afirmar que a procura pelo aprendizado do idioma nesse país tem aumentado, devido a razões políticas e econômicas em relação ao Brasil e Angola.



Estando imersa na atmosfera de Macau começei a me perguntar: Como seria a situação de uma comunidade minoritária de origem portuguesa que ainda reside naquela região? Infelizmente não achei a resposta nas ruas e em lojas, apesar dos meus olhos terem procurado ansiosamente por pessoas que depusessem como é viver lá. Felizmente achei um jornal eletrônico, cuja missão é suprir a carência de um ambiente informativo e cultural em português e que possibilite também a troca de opiniões. Indico a leitura: Site do HojeMacau

Achei também uma tese de mestrado sobre a saída de macaenses rumo à  Portugal e Brasil.Link


Eu sou expatriada em Moçambique, um país de língua portuguesa, que ama a cultura brasileira e que sofre grande influência dela, principalmente pelo assédio televisivo e musical. Digo isto para mostrar a fluidez e a naturalidade que ocorre a adaptação de um brasileiro aqui. Com um português não ocorre muito diferente, apesar da recente memória da expulsão colonialista. Agora transpasso todas essas questões de idioma, cultura e aceitação para a comunidade portuguesa em Macau e  percebo a enorme tarefa que deve ser  preservar a memória de sua origem e resgatar a sua identidade ao decorrer de gerações.

Nós fomos para Macau de 'ferry boat" que partiu de Kowloon em Hong Kong (China Ferry Terminal), onde tentaram nos aplicar um primeiro golpe. Na frente da bilheteria do ferry,  há pessoas gritando em Inglês a hora de partida do próximo barco para Macau. Daí o desavisado compra o bilhete nas mãos desses indíviduos e só depois descobre que aquelas passagens foram vendidas super em cima do horário, de forma que até passar pela migração não conseguirá embarcar.

Como já tínhamos lido na Net sobre este golpe, deixamos os golpistas se esgoelando e compramos diretamente com o carinha que fica atrás do balcão.

Fila para embarcar
Assim como  em Hong Kong, brasileiros não precisam de um visto prévio para entrar em Macau, basta peencher um formulário e apresentar o passaporte.


Achei o barco super confortável e estável. A viagem dura cerca de 1 hora e existe serviço de bordo. Pagamos em torno de R$50 por uma perna da viagem.Link do site do ferry - horários e preços 

Apesar da moeda de Macau ser a Pataca, cujo valor é praticamente o mesmo do Hong Kong Dollars, o HKD é aceito por lá.

Logo desembarcando do ferry, podemos ver as coisinhas escritas em português e começamos a sentir um clima familiar.


Logo depois de passarmos pela migração, tentaram nos aplicar um segundo golpe: Fomos pegar um mapa da cidade em um stand, cujo funcionário disse ser "stand oficial do governo" (conversa toda em Inglês). Papo vai, papo vem, ele marcou os pontos turísticos no mapa e disse que levaríamos 1h30min andando do terminal do ferry até o primeiro ponto do roteiro turístico; disse também que a pé levaríamos umas 3 horas para completar o roteiro. Por fim tentou vender seu peixe, um serviço caríssimo de guia, o que equivalia, se não me engano, uns 80 USD por esse "mini day tour". Eu senti que aquilo era uma ofensa à minha inteligência e me livrei do cara objetivamente, dizendo que fariamos o percurso por conta própria. Ele ainda lançou sua última cartada para nos convencer fechar com ele, dizendo que as pessoas não entenderiam Inglês para nos ajudar.

Alguns passos a mais e eu descubro o verdadeiro balcão oficial. Esse nos informou que a caminhada inicial duraria 30 minutos e que o roteiro até poderia levar 3 horas, mas que as coisas estavam bem próximas uma das outras no roteiro que eu escolhi. Também confirmou o que eu já tinha certeza, conseguiria me comunicar com taxistas e vendedores através do inglês.

O que me chamou muita atenção no ato da explicação de ambos os balcões foi que os nomes originais dos pontos turísticos, em português, foram falados em Inglês. Muito triste fiquei, pois pensei que quando dissessemos que falavamos português a pronuncia seria, no mínimo, a original.

Pegamos o taxi em frente a saída do terminal do "ferry" e em 15 minutos estávamos no ponto de partida de nossa caminhada histórica - o Largo do Senado.

Nossa primeira visão foi a Santa Casa da misericórdia, prédio de estilo neoclássico,  fundado pelo primeiro bispo de Macau em 1569. Tudo em Macau é tão apertadinho que a presença dos muitos turistas torna quase impossível uma foto "limpa"!



Posteriormente avistamos o Edíficio do Leal Senado, outro prédio de estilo neoclássico, construído em 1784 para ser a primeira câmara municipal de Macau. Esse nome deriva do título dado a Macau  pelo rei Dom João IV: "Cidade do Nome de Deus de Macau, não há outra mais leal"

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Logo ali pertinho do Senado fica a Igreja de São Domingos que foi fundada em 1587 por três padres dominicanos provenientes de Acapulco, México. Foi na igreja de São Domingos que foi publicado o primeiro jornal português em solo chinês, "A abelha da China", em Setembro de 1822.





As Ruínas de São paulo são remanescentes da Igreja da Madre de Deus, construída em 1602-1640, tendo sido destruída num incêndio em 1835 e do colégio de São Paulo. Ambas foram construções jesuíticas.



As ruínas de São Paulo me causaram uma certa saudade do que não vivi, não me perguntem o porquê. O lugar é lindo para tomar fotos, inclusive vi um casal, posando para o seu book de casamento.



O museu da arte sacra nas Ruínas de São paulo é interessantíssimo. Há uma cripta, onde existia a capela do antigo Colégio de São Paulo, onde se encontram gavetários encrustrados numa grande pedra com os restos mortais de religiosos e seculares, que foram sepultados naquela igreja. Existem também relicários abertos nas paredes laterias com o restos mortais de mártires japoneses e vietnamitas do século XVII.

O mercado de jogos de azar e o turismo são as maiores atividades econômicas de Macau. São tantos Cassinos e uma desmesurada movimentação de dinheiro em torno destes que Macau ganhou o título de "Las Vegas do Oriente". Hoje vi a notícia de que o novo homem mais rico da Ásia é dono de um grupo de Cassinos em Macau.

Hotéis e Cassinos vistos das ruínas de São Paulo

Os famosos pasteizinhos de Natas portugueses estavam surpreendentemente bem feitos. Tivemos que parar duas vezes para saborea-los.



Lar Nossa Senhora da Misericórdia, construído em 1925. Faz parte da Santa Casa de Misericórida.


Residências e ruas de  Macau





Encontrei esse quadro do centenário de Mao Tse Tung numa pequena galeria em Macau 

A Igreja de Santo Antonio, construída em 1560, assinala o lugar, onde os jesuítas se instalaram originalmente na cidade. Depois a igreja foi reconstruída em 1875, assumindo a configuração que tem atualmente. Sua torre e fachada foram restauradas em 1930. A arquitetura é neoclássica com influências barrocas, principalmente na decoração  interior. A igreja era muito procurada pela antiga comunidade portuguesa para a celebração de casamentos por isso ficou conhecida até hoje como "Igreja das Flores".





Para mim uma cidade passa a ser aconchegante e acolhedora, quando vejo pessoas na ruas socializando. Idosos jogando conversa fora, crianças correndo, trabalhadores circulando, donas de casa "tomando um ar", casais de apaixonados namorando e cachorros/gatos bisbilhotando o movimento são poeticamente encantadores para mim. Tudo isso me seduz de uma tal forma! Arrisco dizer que também seduziam os saudosos poetas brasileiros Vinicius de Moraes e Tom Jobim. 

Macau me seduziu!




Esse lugarzinho em Macau era todo destinado a saudar Camões:






Outra parte super interessante de Macau é o Templo de Na Tcha, construído em 1888 para o culto a Na Cha. O templo fica bem pertinho das ruínas de São Paulo e representa o sincretismo entre a dialética ocidental e os ideais chineses, sendo um dos melhores exemplos da identidade multicultural de Macau e da liberdade religiosa.




Troços das antigas muralhas de defesa, contruídas a partir de 1569, são belos exemplos da tradição portuguesa em construir muralhas de defesa. A construção dessa muralha incorporou a técnica e os materiais locais, em que a mistura de massa leva palha de arroz e conchas de ostras moídas, além de elementos comuns como barro, areia, pedra e terra.


Minha passagem por Macau foi curtinha de apenas 1 dia, mas deu para aprender muito. Sem dúvidas foi o dia mais agradável que tive nessa minha última viagem. Espero retornar em breve para conhecer muitas outras construções como a Fortaleza do Monte, a casa do Mandarim e também os cassinos macaenses, bem como os da Ilha de Taipa que fica ao ladinho de Macau. 

Espero que tenham feito uma ótima leitura /viagem com essa poeira do meu pé!



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