domingo, 27 de julho de 2014

Praga: Impossível não amar

Gosto de andar sem o compromisso com a hora e com a distância, encontrando lugares curiosos e lugares curiosos foi o que não faltou em Praga.  Com a diversidade de coisas para se conhecer, Praga se torna “estreita” apesar de ser uma grande cidade, as distâncias são vencidas com muita espontaneidade e distração. Praga pode ser dividida em 3 partes  ”old city / Staré Mesto”, “new city/ NovéMesto” e distrito do castelo/”Hradcany”. Inicialmente planejava visitar cada parte em um dia, mas logo no primeiro dia fiz a parte nova e a velha que acabam se conjugando, daí nos dias restantes fui adentrando nos locais que eram do meu interesse como o museu do comunismo,  o museu sexy machine, o museu  do Franz Kafka, a loja de lomografia Analogue e algumas sinagogas do bairro judaico;  assisti também ao lago dos cisnes no teatro Divadlo Hybernia. Vou fazer um resumo fotográfico dos lugares pelos quais passei, entrei e me encantei. Não fiz necessariamente eles nessa ordem, mas organizei de forma que qualquer pessoa que esteja interessada possa poupar tempo com as buscas. 

Vou começar pela Náměstí Republic (náměstí significa praça em tcheco”). Essa praça tem um entroncamento de trams. Quando a visitei estava acontecendo um festival gastronômico, bem em frente ao maior shopping da cidade que se chama Palladium e que também fica na Námesti Republic. A festa estava bastante engraçada, já que no meio da rua e em plena luz do dia as pessoas tomavam champagne ou vinho acompanhado de queijos.





Estando na praça e de costa para o shopping, percebe-se um leque de diversas ruas, seguindo a que está mais a esquerda e avante (a primeira rua a esquerda seria para descer no sentido Florenc) estão localizadas três atrações:), a esquerda o teatro Divadlo Hybernia, a direita a Obecní Dum (Muncipal house) e um pouco adiante a torre Prasna brána (torre do poder/”power gate”).



O teatro Divadlo Hybernia foi onde assisti ao Lago dos Cisnes, mas há uma alternância entre os espetáculos que são apresentados na casa. Para a minha boca aguar vi que em Julho haverá show da Natalie Cole.
O Lago dos Cisnes foi uma apresentação emocionante.  O cenário e bailarinos estavam maravilhosos e para completar no intervalo do espetáculo a trilha sonora ficou por conta de Vinicius de Moraes.






A Obecní Dum/ Municipal House é o maior local para a realização de concertos e uma importante construção do país, foi construído em 1905-1912 e em 1918 foi palco da proclamação da independência da Tchecoslováquia. O estilo é “art Nouveau”(mil coraçõezinhos) com temas nacionais. Nas laterais existem esculturas que representam a degradação e a ressureição do ser humano. 



A torre Power Gate conquistou o meu coração, porque ela é um dos símbolos mais antigos da cidade, tendo sido construída em 1475, em estilo gótico, para ser o principal portão da cidade (mil coraçõezinhos pra velhinha) e até em 1836 os reis passavam por essa torre para serem coroados na catedral de São Vitus. Existe uma pontezinha  super charmosa unindo a torre ao Obecní Dum, que era o palácio real até o rei  boêmio  Vdadislavs se mudar para o Castelo de Praga. A Power gate é uma das treze torres existentes em Praga, mas sem dúvida é a mais especial.







Passando pelo arco da torre, seguindo a rua Celetná atinge-se a old square, onde estão localizados outras antigas e famosas construções como o  relógio Astronômico/Prazky orloj, a Týn e a St Nicholas church e a estátua de Jan Hus, um reformista religioso que morreu queimado em 1415, mas antes de falar e mostrar essas construções é preciso dizer a delícia que é caminhar pela rua celetna ou qualquer outra viela que chega na old square. Essas estreitas ruas apresentam desde loja de souvenirs, antiquários a teatros. Uma coisa que notei é que o preço dos souvenirs em Praga é padronizado, não quero cometer uma falácia, mas comprei chocolates, chaveiros e cadernos em lugares diferentes pagando sempre o mesmo preço. Talvez itens maiores como matrioskas e cristais tenham preço diferenciado, o que deve depender da qualidade do material e da beleza do produto.




O relógio Astronômico é muito gracioso, dá até vontade de levar pra casa (tsc), ele é todo enfeitadinho, inclusive tem uma caveira que puxa o sino e duas janelinhas pelas quais se vê 12 apóstolos andando a cada hora. Uma multidão de turista corre ensandecidamente para se por a postos, quando o relógio começa a ronronar, avisando que o espetáculo vai começar. São fotos e mais fotos durante a caminhada dos discípulos e palmas e mais palmas quando as janelinhas se fecham (lol). Brincadeiras a parte o relógio é histórico pra caramba, já que foi construído em 1410, sendo o terceiro relógio astronômico mais antigo do mundo, embora ganhe mais relavância, pois é o único que funciona. O “sortudo” do Kafka morou em frente ao relógio. O sortudo entre aspas foi colocado, porque a história deste ícone da literatura mundial não foi de tanta sorte assim, veremos mais adiante, quando eu contar minha visita ao museu do cara no distrito do castelo.



Concorrendo a uma vaguinha para ver o relógio astronômico

Numa das vielas (Melantrichova) que cercam a old square no lado do astronomical clock está o museu sexy machine. O museu exibe pinturas e roupas eróticas, além de uma série de dispositivos mecânicos para provisão de prazer de forma  individual ou coletiva. Os dispositivos vão dos mais atuais encontrados nos “sex shoppings” a outros grotescamente muito antigos. Essa, sem dúvida, foi a exposição mais louca que já fui. Nada melhor que mostrar as fotos, para que vocês vejam com os próprios olhos:

Love Tester Chair - Burn Level (to podendo LOL)

Sexo  machista esse!

Auto suficiência com ajuda das peninhas LOL

Uma das muitas maquininhas exibidas no museu

Cinto de Castidade 
Maquininha ao lado




Também o museu exibia dois filmes pornôs espanhóis, produzidos em torno de 1925. Vi somente um chamado “Ladie’s cabinet”. O filme consistia em dois cenários basicamente, um, em que um médico tem relações com suas pacientes, inclusive duas simultaneamente; e outro em que a esposa deste médico se vinga tendo relações com seu mordomo e com sua governanta.  Sob o ponto de vista do conteúdo achei os filmes bem avançados para aquele tempo. Quanto a técnica o filme é mudo com uma musiquinha muito gozada (trocadilho infame esse!LOL). O outro filme que não cheguei a ver chamava “The confessor or the friar’s blessing”. Com esse nome fica difícil não acertar que o filme exibe um frade tendo relações com mulheres vulneráveis que precisam pagar penitência por seus pecados.

Rola um boato que esses filmes foram produzidos sob encomenda do rei espanhol Afonso XIII, o bisavô do rei atual, Juan Carlos. Vai saber?!!

Nas vizinhanças  visitei o museu do comunismo. Esse fica bem escondido no segundo andar de um prédio antigo, onde também funciona um cassino. O museu consiste de uma exposição com bastante imagens, cartazes soviéticos, algumas estátuas e réplicas de armas e alguns utensílios do período abordado; que tratam da ascensão, do apogeu e do declínio do comunismo na Tchecoslováquia.





                                                                  
Particulamente achei que por muitas vezes o museu perdeu o tom narrativo e parcial de fatos, para o tom subjetivo e irônico. Apesar disso valeu a pena estar naquele lugar para ver detalhes de uma história, que parece ter ocorrido ontem.

Ainda na parte velha de Praga está o bairro judaico, o que considero imperdível na cidade. Inicialmente meu planejamento era apenas visitar as ruas e o cemitério judaico, mas logo que cheguei naquele local fiquei tentada entrar e conhecer um pouco da história dos judeus que viveram numa Praga dominada pelo nazismo. Infelizmente não consegui entrar em todas sinagogas, mas o que vi foi o suficiente para conhecer um pouco mais da cultura judaica e me emocionar com um período tão cruel para a humanidade. 

Judish Hall

Há duas combinações de ingressos que permitem a entrada em sinagogas que compõe o museu judaico. A diferença é se a Old-New Synagogue está inclusa, o que é um dos pontos mais fortes desse circuito, sendo a sinagoga mais antiga da europa (construída em 1270). Fotos dentro dela não são permitidas.

Old New Synagogue
Visitei o “Ceremonial Hall’’ e a ‘’Klausová synagogue”, onde são mostrados utensílios judaicos como arcas, incensários e candelabros; assim como fotos e explicações sobre tradições e costumes judaicos. Aprendi um pouco sobre o funeral judaico que deve possuir uma cerimônia, na qual um salmo condizente com a vida do falecido deve ser lido e elogios a uma qualidade marcante do  mesmo devem ser feitos, além disso um quórum de 10 homens acima de 13 anos deve ser tido, para que o sepultamento ocorra.


Cerimonial Hall
Algo que me impressionou muito foi uma sala de memórias com os desenhos feito por crianças judias que moraram nesse gueto. Desenhar era uma forma desses miúdos se distraírem e extravasarem suas emoções, lembranças e sonhos. Havia desenhos de toda ordem: o cotidiano no alojamento, a vida com a família antes de terem sido aprisionados no gueto, contos de fadas, lembranças do dia em que perderam sua liberdade e devaneios sobre o dia, em que saíriam daquele pesadelo. Pena que para a maioria dessas crianças o destino final foi a câmara de gás em Auschwitz. 

Ver aquelas imagens e estar naquele lugar me deixou com as pernas bambas e repleta de melancolia como se estivesse tentando achar um motivo plausível pra “quase toda" uma sociedade se tornar cúmplice de tamanha crueldade. Um italiano que levava seus filhos para conhecer essa lamentavel história aludiu em varios momentos ao filme "La vitta è bella" e realmente fez sentido pra mim que as judias que dedicaram seus últimos dias de vida incentivando aquelas crianças a desenharem criavam alternativas pra não "adultecer" os miúdos tal como o personagem do Roberto Benigni no filme. Para ser honesta a tentativa foi louvável e valorosa, mas insuficiente, pois uma criança que foi separada de seus pais e teve que substituir seu local de brincar de praças públicas por cemitérios nunca mais foi a mesma. Não gosto que esse museu exista, para dizer objetivamente odeio que essa história nazista tenha sido escrita.

Fechei o bairro judaico visitando o cemitério judaico que foi construído em 1680; o que podemos ver hoje é só uma pequena parte do que um dia foi o imenso cemitério, o qual sofreu intensas alterações, em virtude de acontecimentos históricos e do crescimento de Praga. Mesmo assim existem túmulos muito antigos no lugar.

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Jubilee Synagogue
Cruzando o rio Vltava está o distrito do castelo de Praga, onde além do castelo vistei o museu de Franz Kafka e a loja Analogue, onde comprei minha Diana e uma polaroide de presente pro Guilherme que fez cara de criança ao receber (lol).


Ainda no bairro judeu, estátua em homenagem a Franz Kafka, um dos mais ilustres judeus cidadão de Praga

O museu de Kafka me fez conhecer o lado mais frágil do artista que esboçou seu tempo, sua cidade e a cultura de sua época, partindo de suas frustações de infância e de toda a dificuldade vienciada por um judeu numa cidade habitada por alemães e tchecos. O museu aborda trechos das cartas de Kafka ao seu pai, são palavras fortes como as de um homem que ultrapassou toda indiferença de sua família, mas ao mesmo tempo são palavras tímidas de um garoto que gostaria de ter sido aceito pelo menos num lugar do mundo, em sua casa.


Kafka trabalhou durante muito tempo para o instituto de seguro de acidentes do trabalho. Uma parte interessante do museu são as cartas que o autor escrevia pedindo dispensa médica, o que mostrava sua saúde frágil; e as cartas, em que mostrava todo seu descontetamento com o sistema burocrático e ineficiente para o qual prestava serviço. Essa parte da vida de Kafka me mostrou o quanto de autobiográfica foi sua obra Metamorfose.

O artista não teve uma vida amorosa muito feliz. Apesar de tantas mulheres que passaram em sua vida, sua mais forte paixão foi uma mulher mais nova que morreu num campo de concentração. Sua companheira dos últimos dias talvez seja uma das coisas mais compensadoras que o escritor teve, Dora Diamant cuidou do escritor até seus últimos dias com todo afinco e amor.

Algo curioso é que Kafka não queria que sua obra fosse divulgada e assim pediu que seu melhor amigo desse cabo de tudo que escrevera. Seu amigo desobedeceu, sabendo que a obra de Kafka era algo que o mundo precisava conhecer.

No caminho do Castelo de Praga uma parada na loja Analogue para comprar minha Diana. Praga é a cidade onde dois jovens austríacos redescobriram uma máquina analógica da marca russa Lomo. Essa marca produzia máquinas de plástico, de baixo custo, cujo resultado da fotografia era bem peculiar e belo. A arte de fotografar com essas câmeras se espalhou muito rápido pelo mundo e as máquinas voltaram a ser produzidas. Há um ano e pouco a lomografia veio ganhando o meu coração e ela foi decisiva na escolha de visitar Praga. Decidi nascer na lomografia no lugar onde a lomografia renasceu:

Eu na foto polaróide tirada pelo dono da Analogue

Graças ao Impossible, tornou-se "possible" a fotografia para os amantes da Polaróide




E vamos ao castelo de Praga, antiga residência dos reis da Boêmia...


Catedral de São Vitus

Subida para o castelo, à esquerda suas muralhas
 Agora cruzando novamente o rio, separando a cidade nova da velha está a Wenceslau Square, um local que foi palco de diversas manifestações e celebrações históricas na República Tcheca, sendo assim a praça mais importante da cidade. No final da praça, na parte nova se encontra o museu nacional da República Tcheca, o Národní Museu. Infelizmente, esse que poderia ser pra mim a melhor parte da cidade se encontrava fechado para restauração e assim ficará até 2015. Um motivo tentador para retornar!

Wenceslau Square

Flores e muita beleza na Wenceslau Square



A culinária tcheca é muito regada a salsicha e carne de porco. Apesar de não ser fã e já ter sofrido crise alérgica de carne de porco, tive que provar o prosciutto di praga (pernil), comi no sanduba e comi tb puro, acompanhado da cerveja Pilsner Urquell. 
Prosciutto di Praga
E olha o molho para o cachorro quente ao estilo teta de vaca!

Outra coisa maravilhosa que provei foi a sopa de goulash, servida no pão. Essa ficará guardada na memória por todo sempre e não é exagero, para minha infelicidade eu a descobri no meu último dia em Praga e para minha felicidade em Budapeste o prato também é servido.

Sopa de Goulash
Comi a última iguaria tcheca no trem indo para Budapeste, Svickova, que é carne num molho de natas servido com uma espécie de pão de água (Knedlik).

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