domingo, 11 de janeiro de 2015

Berchtesgaden, sua riqueza e histórias

Era um dia que prometia neve, a temperatura não era das mais agradaveis, mas a curiosidade para conhecer as montanhas bavárias e nossa primeira mina de sal fez com que levantassemos cedo da cama e caíssemos na estrada. Num dia anterior a viagem agendamos o tour num quiosque na Mirabell Platz em Salzburg. Inicialmente queríamos ir a mina de Hallstatt que fica na Áustria, eu particularmente estava atraída por fotografar o cemitério de Hallstatt com o altar de sua capela feito de ossos, mas demos um upgrade no passeio para poder ver as montanhas bavárias. Ainda assim eu acreditava que o nosso destino final era Hallstat, mas fui surpreendida no ônibus, quando a simpatica guia Natasha nos disse que em poucos minutos estaríamos atravessando a fronteira entre a Áustria e a Alemanha. 

Avistando o sol nascer entre os Alpes, ainda no ônibus

O caminho já mostrava que independente do passeio à mina, a viagem já estava ganha. Uma paisagem belíssima que condensava casas típicas da montanha com uma vegetação completamente estranha a alguem de um país tropical, o que enraizou altos questionamentos em mim: como viver tão isolado, vendo um mundo particamente bicolor?





Eu  havia ouvido falar no Eagle's Nest (Ninho da águia), sempre que estudava minha viagem a Salzburg, mas não me atraía a ideia de conhecer uma casa que foi de Hitler. Logo que começamos a subir a montanha, lá estava ela, visível na parte mais alta, punjante, intocável, possiblitando a visão de 360° de todo o Alpes como um verdadeiro ninho de águia. Kehlsteinhaus, nome oficial da mansão, me fez sentir perseguida, pois por mais voltas que desse o ônibus, ela parecia estar sempre nos olhando e acho que foi essa a intenção de Bormann, quando a mandou construir.

O ninho da águia

Natasha, a guia, nos contou que as diversas construções do período nazista que haviam naquela região foram demolidas, somente sobrando Kehlsteinhaus. Depois li que muita delas já haviam sido bombardeadas pelas forças aérea britânica e americana. A mansão foi um presente muito caro encomedado por Bormann, a estrada até ela começou a ser construída no início de 1937 e foi entregue em Abril de 1938. Eu como engenheira imagino a força tarefa que foi movida para que o trabalho fosse feito em tão pouco tempo com a tecnologia disponível na época e com as difíceis condições climáticas, principalmente. Comprei uma revista que mostram fotos impressionantes daquela região no pós guerra  e da audaciosa construção da estrada.


Observando toda essa engenhosidade em nome do reconhecimento da Alemanha como um grande estado, começo a entender uma das armadilhas para aquela população acreditar nas palavras de Hitler. As obras não foram poucas, muitas pessoas estavam empregadas nelas, os salários não eram baixos e o mundo estava sofrendo os reflexos da crise de 29. 

Vi uma maquete na paragem dos ônibus que sobem para o Ninho e fiquei impressionada com o sistema que se estabeleceu naquela região. Obersalzberg de um lugar pacato usado para férias da aristocracia bavária se tornou local referência  para as tropas nazistas e interessados nos discursos de Hitler, já que ali se estabeleceu seu segundo quartel. Apesar da mansão estar fechada nesse período por conta do clima (abre de Maio a Outubro), pude aprender bastante com a guia e com o material que consegui lá. Apesar de todo mobiliário, obras de arte e até uma lareira toda em mármore, presente de Mussolini, Hitler ficava com mais frequência na residência que ficava mais abaixo, o Berghof. A casa estava conectada a um sistema de bunker; como a casa de Bormann, entre outros cabeças do partido. 

A cidade de Bertchtesgaden tem uma história que começa com a descoberta do sal no século XII, motivo pelo qual já passou por diversas ocupações como a francesa e a austríaca. A cidade em si é uma graça, mas bem pequena. Vou mostrar, que é melhor do que descrever:







O passeio na mina de sal foi surpreendente, pois adentramos à mina com uma espécie de trem de carcaça humana. Sim, porque sentamos sobre os bancos, uns agarrados aos outros, não existia nenhuma proteção externa e assim viajamos com um cagaço de bater com braços e cabeça na mina, mas é só cagaço mesmo, porque o percurso é seguro. 


Passada a emoção do túnel é a vez do escorregador e vamos nós de novo com cara de turistas babacas e infantis (hahahahha). Se não fossem essas câmeras que disparam automaticamente quando a gente passa não teria como compartilhar a tamanha fanfarrice que é entrar na mina. Eu adoro!


Brincadeiras a parte, a mina é toda interativa com caixas de som para que todo o grupo ouça, jogo de luzes e projeções que demonstram desde a formação da mina no fim do período glacial às máquinas de perfuração utilizadas atualmente. Ao longo do trajeto me encantei com a coloração da rocha que apresenta variações bacanas. Quem vai com a idéia de uma mina baixa e apertada se engana, a mina chega a ter uma parte chamada catedral de sal que tem 17 m de altura. O sistema de ventilação é bastante eficiente, em nenhum momento me senti mal naquele lugar. A temperatura é fixa em 10°C, um frio da porra, principalmente porque tive que tirar meu casaco pra ficar confortavel naquele macacão da casta ypsilon menos que me fizeram entrar (hahahah). 


O mais impressionante é saber que a mina de Berchtesgaden está em operação desde 1517, a velhinha é definitivamente muita rica. O tour que deve durar quase uma hora termina num passeio de barco num espelho de água interno à mina, que posso dizer que é super relaxante. 


Posso comparar Berchtesgaden a um filho inesperado. Aquele que você entra em pavor quando descobre que está a caminho, mas que depois jura amar. Foi uma viagem de ponderações sobre a humanidade, sobre o valor do trabalho e até sobre prazos para conclusão de um mega projeto (nem sei pq pensei isso hahahaha), mas definitivamente foi um passeio que vou guardar na memória e no coração. As poucas cores daquela montanha e a paz, que hoje ela transmite, com certeza estão gravadas na minha mente e agora no Poeira do Pé. 





E assim eu deixo pra vocês o meu primeiro post de 2015 com a esperança de nesse ano poder escrever muito mais e pagar as tantas dívidas que tenho com quem acompanha o blog. 


Um comentário:

  1. Encontro seu blog com esta matéria incrível, e vi que faz mais de 3 anos. Vou para Áustria em janeiro e adorei seu relato. Acho que vou esticar até essa Mina.

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